O LARGO DA DEVESA OU CRUZ DE PEDRA -Continuação
No Na década de 70, o largo serviu para muitas e variadas utilizações, desde depósito de madeiras ou materiais de construção, passando por parque de estacionamento, mas sempre foi nesse tempo o local escolhido pela rapaziada desde os mais pequenos aos mais crescidos para aí darem largas às suas brincadeiras, desde as escondidas até ás touradas no coradouro, quando não estava ocupado com roupas estendidas ao sol, até aos famosos e sempre apreciados jogos de futebol que aí se realizavam aos fins-de-semana entre moradores do lugar, jogando muitas das vezes solteiros contra casados; Aí deram os primeiros pontapés nomes que mais tarde eram o orgulho desta terra nos grandes estádios de futebol, como Branco ou Redondo.
Nesse tempo, à tardinha, os pardais chegavam aos bandos, num chilrear de encantar que se prolongava até ao cair da noite.
O largo para nós “crianças de catequese” era como que o centro do mundo!
Tudo nos era permitido fazer naquele local, todas as brincadeiras tinham lugar no largo.
Mas sempre livre e desimpedido para que se pudesse realizar a festa no 2º domingo de Agosto em louvor do senhor da Cruz de Pedra.
Aquele largo representa muito para muita gente do lugar de Crasto.
Ali chegou a notícia da liberdade!
Foi ali, que muitos tomaram consciência das mudanças que se estavam a verificar em Lisboa e no país.
Aquele espaço era um local livre, onde se vivia e respirava liberdade.
Apesar de já se respirar nesta freguesia a brisa da liberdade e ainda ébrios dos festejos da revolução um grupo de jovens, desafiou a autoridade do então abade Gomes, que ainda avesso aos ventos da mudança e na tentativa de manter a soberania sobre o seu rebanho, não permitia que houvesse festas na freguesia com os já apetecidos conjuntos musicais, ousaram fazer nesse local um baile com conjunto, foi escolhido o “Alegria” de Vila Praia de Ancora, onde actuava o pai do Quim Barreiros.
Foi um sucesso, para gosto de toda a juventude do lugar de Crasto, como consequência e retaliação o padre Melro, como era chamado, deixou de vir celebrar missa à capela da Cruz de Pedra, como fazia todos os domingos pelas 10 horas.
Já na década de 80, novamente pela mão do mesmo “João da Ritinha”, já sem a batina e obrigações eclesiásticas, o largo voltou a servir de palco para as representações do velho auto dos turcos, que não era representado desde 1965, bem como do drama de Santo António (7 de Agosto de 1982), outra peça de teatro do agrado desta gente e que há muito que era reclamado.
O tempo foi passando e o largo não era merecedor de qualquer tipo de obras de beneficiação, chegando ao ponto das raízes dos velhos plátanos estarem já a descoberto.
Procurando minimizar o estado de decadência em que se encontrava o largo, a junta de freguesia incentivada e com o apoio de moradores do lugar, resolve despejar no local, no dia 1 de Julho de 1991, umas dezenas de camiões de pó de pedra, trazido por um camião da câmara municipal da pedreira da Ribeira, que foi prontamente espalhado pelos populares, que entusiasticamente parecia terem encontrado novamente razões para acreditar que valia a pena estar unidos em torno daquilo que é seu.
Mas, a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra, que tinha sido reabilitada para se poderem realizar obras de restauro na capela, apresentou no Tribunal de Ponte de Lima uma Providencia Cautelar, contra a Junta de Freguesia e a ASCURI – Associação Cultural da Ribeira, principais dinamizadoras das obras de recuperação do largo, começando daí em diante uma disputa judicial pela posse do mesmo.
Para evitar o julgamento, o presidente da Junta de Freguesia e Juiz da Irmandade, chegaram a um acordo para por termo ao diferendo de interesses que ambas as instituições.
Nesse documento, a junta de freguesia reconhecia a posse do terreno à confraria e esta comprometia-se a não fazer qualquer acção no largo sem dar conhecimento à junta de freguesia.
Foi neste pressuposto e de boa fé que o então presidente da junta de freguesia (Cândido Gonçalves), depois de solicitado por elementos da confraria da cruz de pedra, concordou com uma ligeira poda nos plátanos.
dia 22 de Fevereiro de 1996, os moradores e vizinhos do largo, foram acordados pelo ronco de moto-serra, ficaram espantados com o que viam, o “podador”, limitava-se a devastar os velhos e desprotegidos plátanos a golpes de moto-serra ao nível do tronco.
Aturdidos com aquela devastação, procuraram o responsável pela junta, que ao ver o estado em que as árvores iam ficar, logo procuraram impedir aquele atentado, recorrendo a veículos automóveis de moradores, que foram colocados sob as árvores que ainda se mantinham intactas.
Esta iniciativa popular permitiu poupar metade dos plátanos existentes.
Este comportamento, por parte da confraria da cruz de pedra, fez terminar o acordo estabelecido, voltando as partes a litigar em tribunal a posse do referido largo.
No dia 21 de Março de 1996 (Dia da Árvore), foi efectuado o leilão das madeiras, que foram “confiscadas” pela população do lugar de Crasto, tendo sido decidido em plenário realizado no local, que o dinheiro apurado na venda das referidas madeiras, se destinaria a obras a realizar no largo.
O dinheiro foi confiado aos senhores António Redondo e Vítor Redondo, para em conjunto com a Junta de Freguesia, abrirem uma conta, onde esse dinheiro seria depositado até ao momento próprio.
Foi também contactado o Eng.º Gentil Alves, responsável pelos Serviços Florestais de Ponte de Lima, que prontamente se disponibilizou para orientar os tratamentos necessários para cicatrizar as feridas provocadas pelos cortes nos plátanos, tendo esse trabalho sido feito por populares amigos do largo.
Nessa altura, vimos pessoas como Quintino Morais, António Pimenta e esposa Ana Vieira, Rita Melo, Elisa Morais, Leandro Nascimento, entre muitos outros, empenhados em evitar a morte dos plátanos da devesa.
Nessa mesma altura, foram plantados mais dois plátanos jovens, que foram transplantados das margens do rio lima, na zona dos feitais, em Crasto.
Em 12 de Janeiro de 2001, perante o juiz Dr.ª Ana Maria Martins Teixeira, junta de freguesia e Irmandade do Senhor da Cruz de Pedra, põe termo à Acção ordinária nº 279/96, onde eram autora e ré, respectivamente as partes intervenientes, nos termos de um acordo, onde a Junta de freguesia reconhecia que a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra era dona do Largo;
A Confraria obriga-se a consentir o uso do referido largo pelo público, nos mesmos termos em que tradicionalmente tem sido feito, compromete-se a manter os acessos, através do largo, aos caminhos públicos que nele tem origem e ás habitações situadas na periferia.
A confraria fica disponível para facilitar à JF outras utilizações ocasionais do largo… obriga-se a não alienar o largo.
A Junta de freguesia poderá sugerir à confraria a realização no largo quaisquer obras que considere adequadas, colaborará com a Confraria na obtenção das verbas necessárias à execução de qualquer projecto de arranjo do largo...
Em Julho de 2002, a Confraria mandou colocar no canto Sul/Poente do largo um cruzeiro em pedra com a imagem do Senhor da Cruz de Pedra.
Em 17 de Novembro de 2004, a Junta de Freguesia, envia um ofício (100/2004) à Câmara municipal a solicitar a atribuição de uma verba como comparticipação nas despesas a efectuar com o arranjo do Largo da Cruz de Pedra/Devesa.
A Câmara municipal, em reunião de 14 de Fevereiro de 2005, Face à disparidade do valor das propostas apresentadas para a execução do arranjo em causa e a análise dos serviços técnicos deliberou por unanimidade, submeter a apreciação dos Serviços técnicos a análise detalhada dos preços unitários do orçamento mais vantajoso.
Em 10 de Março de 2005, a Junta de Freguesia, envia um novo oficio (38/2005) à Câmara Municipal a solicitar a atribuição de uma comparticipação nas despesas a efectuar com a reformulação do largo da Devesa.
Em reunião de 29 de Março de 2005, o executivo municipal deliberou por unanimidade atribuir uma comparticipação de 70% até ao máximo de 49.535,00 Euros + IVA a pagar à medida da execução da obra.
As obras de remodelação e beneficiação decorreram durante o Verão de 2005, foram executadas pela empresa António Grenho de Lanheses, Viana do Castelo.
Documentação consultada:
Livro de notas para actos e contratos entre vivos nº57, do notário Benjamim Cândido Vieira Lisboa, ponte de Lima
Processo de Autos de Acção Sumária, onde foram autores JF Ribeira e réus Constantino Redondo, 1ª Secção do Tribunal de Ponte de Lima, Arquivado sob o nº2, maço 8, do Ano de 1959
Actas da Junta de Freguesia de Ribeira, do livro de actas de 4/2/1945 a 1476/1969
Acta de Audiência de Julgamento, 12/1/01,Acção Ordinária nº 279/96
Nesse tempo, à tardinha, os pardais chegavam aos bandos, num chilrear de encantar que se prolongava até ao cair da noite.
O largo para nós “crianças de catequese” era como que o centro do mundo!
Tudo nos era permitido fazer naquele local, todas as brincadeiras tinham lugar no largo.
Mas sempre livre e desimpedido para que se pudesse realizar a festa no 2º domingo de Agosto em louvor do senhor da Cruz de Pedra.
Aquele largo representa muito para muita gente do lugar de Crasto.
Ali chegou a notícia da liberdade!
Foi ali, que muitos tomaram consciência das mudanças que se estavam a verificar em Lisboa e no país.
Aquele espaço era um local livre, onde se vivia e respirava liberdade.
Apesar de já se respirar nesta freguesia a brisa da liberdade e ainda ébrios dos festejos da revolução um grupo de jovens, desafiou a autoridade do então abade Gomes, que ainda avesso aos ventos da mudança e na tentativa de manter a soberania sobre o seu rebanho, não permitia que houvesse festas na freguesia com os já apetecidos conjuntos musicais, ousaram fazer nesse local um baile com conjunto, foi escolhido o “Alegria” de Vila Praia de Ancora, onde actuava o pai do Quim Barreiros.
Foi um sucesso, para gosto de toda a juventude do lugar de Crasto, como consequência e retaliação o padre Melro, como era chamado, deixou de vir celebrar missa à capela da Cruz de Pedra, como fazia todos os domingos pelas 10 horas.
Já na década de 80, novamente pela mão do mesmo “João da Ritinha”, já sem a batina e obrigações eclesiásticas, o largo voltou a servir de palco para as representações do velho auto dos turcos, que não era representado desde 1965, bem como do drama de Santo António (7 de Agosto de 1982), outra peça de teatro do agrado desta gente e que há muito que era reclamado.
O tempo foi passando e o largo não era merecedor de qualquer tipo de obras de beneficiação, chegando ao ponto das raízes dos velhos plátanos estarem já a descoberto.
Procurando minimizar o estado de decadência em que se encontrava o largo, a junta de freguesia incentivada e com o apoio de moradores do lugar, resolve despejar no local, no dia 1 de Julho de 1991, umas dezenas de camiões de pó de pedra, trazido por um camião da câmara municipal da pedreira da Ribeira, que foi prontamente espalhado pelos populares, que entusiasticamente parecia terem encontrado novamente razões para acreditar que valia a pena estar unidos em torno daquilo que é seu.
Mas, a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra, que tinha sido reabilitada para se poderem realizar obras de restauro na capela, apresentou no Tribunal de Ponte de Lima uma Providencia Cautelar, contra a Junta de Freguesia e a ASCURI – Associação Cultural da Ribeira, principais dinamizadoras das obras de recuperação do largo, começando daí em diante uma disputa judicial pela posse do mesmo.
Para evitar o julgamento, o presidente da Junta de Freguesia e Juiz da Irmandade, chegaram a um acordo para por termo ao diferendo de interesses que ambas as instituições.
Nesse documento, a junta de freguesia reconhecia a posse do terreno à confraria e esta comprometia-se a não fazer qualquer acção no largo sem dar conhecimento à junta de freguesia.
Foi neste pressuposto e de boa fé que o então presidente da junta de freguesia (Cândido Gonçalves), depois de solicitado por elementos da confraria da cruz de pedra, concordou com uma ligeira poda nos plátanos.
dia 22 de Fevereiro de 1996, os moradores e vizinhos do largo, foram acordados pelo ronco de moto-serra, ficaram espantados com o que viam, o “podador”, limitava-se a devastar os velhos e desprotegidos plátanos a golpes de moto-serra ao nível do tronco.
Aturdidos com aquela devastação, procuraram o responsável pela junta, que ao ver o estado em que as árvores iam ficar, logo procuraram impedir aquele atentado, recorrendo a veículos automóveis de moradores, que foram colocados sob as árvores que ainda se mantinham intactas.
Esta iniciativa popular permitiu poupar metade dos plátanos existentes.
Este comportamento, por parte da confraria da cruz de pedra, fez terminar o acordo estabelecido, voltando as partes a litigar em tribunal a posse do referido largo.
No dia 21 de Março de 1996 (Dia da Árvore), foi efectuado o leilão das madeiras, que foram “confiscadas” pela população do lugar de Crasto, tendo sido decidido em plenário realizado no local, que o dinheiro apurado na venda das referidas madeiras, se destinaria a obras a realizar no largo.
O dinheiro foi confiado aos senhores António Redondo e Vítor Redondo, para em conjunto com a Junta de Freguesia, abrirem uma conta, onde esse dinheiro seria depositado até ao momento próprio.
Foi também contactado o Eng.º Gentil Alves, responsável pelos Serviços Florestais de Ponte de Lima, que prontamente se disponibilizou para orientar os tratamentos necessários para cicatrizar as feridas provocadas pelos cortes nos plátanos, tendo esse trabalho sido feito por populares amigos do largo.
Nessa altura, vimos pessoas como Quintino Morais, António Pimenta e esposa Ana Vieira, Rita Melo, Elisa Morais, Leandro Nascimento, entre muitos outros, empenhados em evitar a morte dos plátanos da devesa.
Nessa mesma altura, foram plantados mais dois plátanos jovens, que foram transplantados das margens do rio lima, na zona dos feitais, em Crasto.
Em 12 de Janeiro de 2001, perante o juiz Dr.ª Ana Maria Martins Teixeira, junta de freguesia e Irmandade do Senhor da Cruz de Pedra, põe termo à Acção ordinária nº 279/96, onde eram autora e ré, respectivamente as partes intervenientes, nos termos de um acordo, onde a Junta de freguesia reconhecia que a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra era dona do Largo;
A Confraria obriga-se a consentir o uso do referido largo pelo público, nos mesmos termos em que tradicionalmente tem sido feito, compromete-se a manter os acessos, através do largo, aos caminhos públicos que nele tem origem e ás habitações situadas na periferia.
A confraria fica disponível para facilitar à JF outras utilizações ocasionais do largo… obriga-se a não alienar o largo.
A Junta de freguesia poderá sugerir à confraria a realização no largo quaisquer obras que considere adequadas, colaborará com a Confraria na obtenção das verbas necessárias à execução de qualquer projecto de arranjo do largo...
Em Julho de 2002, a Confraria mandou colocar no canto Sul/Poente do largo um cruzeiro em pedra com a imagem do Senhor da Cruz de Pedra.
Em 17 de Novembro de 2004, a Junta de Freguesia, envia um ofício (100/2004) à Câmara municipal a solicitar a atribuição de uma verba como comparticipação nas despesas a efectuar com o arranjo do Largo da Cruz de Pedra/Devesa.
A Câmara municipal, em reunião de 14 de Fevereiro de 2005, Face à disparidade do valor das propostas apresentadas para a execução do arranjo em causa e a análise dos serviços técnicos deliberou por unanimidade, submeter a apreciação dos Serviços técnicos a análise detalhada dos preços unitários do orçamento mais vantajoso.
Em 10 de Março de 2005, a Junta de Freguesia, envia um novo oficio (38/2005) à Câmara Municipal a solicitar a atribuição de uma comparticipação nas despesas a efectuar com a reformulação do largo da Devesa.
Em reunião de 29 de Março de 2005, o executivo municipal deliberou por unanimidade atribuir uma comparticipação de 70% até ao máximo de 49.535,00 Euros + IVA a pagar à medida da execução da obra.
As obras de remodelação e beneficiação decorreram durante o Verão de 2005, foram executadas pela empresa António Grenho de Lanheses, Viana do Castelo.
Documentação consultada:
Livro de notas para actos e contratos entre vivos nº57, do notário Benjamim Cândido Vieira Lisboa, ponte de Lima
Processo de Autos de Acção Sumária, onde foram autores JF Ribeira e réus Constantino Redondo, 1ª Secção do Tribunal de Ponte de Lima, Arquivado sob o nº2, maço 8, do Ano de 1959
Actas da Junta de Freguesia de Ribeira, do livro de actas de 4/2/1945 a 1476/1969
Acta de Audiência de Julgamento, 12/1/01,Acção Ordinária nº 279/96
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