RIBEIRA, NOVOS HORIZONTES

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Sunday, January 13, 2008

O LARGO DA DEVESA OU DA CRUZ DE PEDRA


PALCO DE INÚMERAS LUTAS E OUTRAS TANTAS REPRESENTAÇÕES

O largo da Devesa, como todos o conhecem, hoje rebaptizado de largo da Cruz de Pedra, tem servido desde o tempo em que a memória se perde no horizonte das recordações, de palco privilegiado para muitas lutas e outras tantas representações.
A curiosidade inquietante, em encontrar uma explicação para tudo que nos rodeia, levou-nos a esta dúvida: - Como terá surgido este magnifico espaço, que tantas conversas e memórias ressuscita nas mentes deste povo de Crasto?
Procuramos essa resposta em conversas com os mais anciãos moradores do lugar, provocamos os nossos pais e avós, para que se lembrassem dos tempos da sua mocidade e assim poderíamos ter algumas explicações para as dúvidas que nos ensombram a mente.
Dessas horas passadas à conversa, foi possível realmente chegar a datas, a factos e a episódios do quotidiano, que realmente podem muito bem servir de explicação para o que se pretende.
É comum ouvir dizer-se que aquele espaço foi oferecido ao povo, com a condição de estar livre no dia das festas do Senhor da cruz de pedra.
Assim, apesar de nos ter sido apontada a data de 1863, para a realização da escritura de venda da Quinta de S. José, feita por João Marcos de Sá e Manuel Joaquim Guedes, a António Leite de Macedo, onde parece constar a oferta desse espaço ao povo do lugar, não foi possível chegar a esse documento, o que deixa tudo na mesma.
No entanto, foi possível chegar a um documento particular, onde é mencionada a venda no ano de 1905, feita por António Leite de Macedo a Manuel Gonçalves Martins, do Bico da Devesa, chamada da Cruz de Pedra, com uma área de 270m2, confrontando de nascente com José Félix Pereira, do poente com o largo e coradouro e do norte e sul com o caminho.
Segundo o testemunho oral dos moradores do lugar de Crasto, era neste local que os feirantes instalavam as suas tendas e barracas de comes e bebes em dia de romaria do senhor da cruz de pedra.
Ora como se verifica, já é feita aqui referencia ao largo.
De salientar, que nesta data já o referido largo servia de palco para as representações do Auto dos Turcos de Crasto-turquia, sendo célebre o episódio ocorrido com Alfredo Mancio, que se lembrou de gracejar no seu jornal “ O Phantasma”, com a ingenuidade popular.
A caricatura aparecida foi efectivamente pesada, ofendeu os figurantes do velhíssimo auto-homens e rapazes de S.João da Ribeira, descendentes de outros que transmitiam de pais para filhos, oralmente, os respectivos papeis.
Em 22 de Outubro de 1907, António Leite de Macedo e mulher, Rosa Januária Pereira Leite de Macedo, vendem a António José d’Araújo a Quinta de S. José ou da Portela e uma Devesa fora da quinta, no mesmo lugar de Crasto ou cruz de Pedra.
É ainda feita referencia que esta devesa, por se achar aberta poderá ser tapada da parede desde a esquina do nascente da casa de Júlio Pereira Pinto em direcção à estrada real e o restante terreno é logradouro da Irmandade do senhor da Cruz de pedra, na forma de uso e costume antigo, pertencendo o roço à mesma devesa, na qual o comprador e na sua falta a irmandade podem plantar arvores para sombra, actualmente esta devesa só tem roço e confronta de nascente, Manuel Gonçalves Martins, poente, Quinta de S. José ou da Portela, norte, Júlio Pereira Pinto e do sul com estrada real, foi comprada ao mesmo João Marcos de Sá e tem o valor de 50 mil reis
Durante o ano de 1930, o referido bico da devesa, é vendido por José Ferreiro, a Constantino Redondo, não sendo feita a respectiva escritura de venda devido à menoridade do filho Diamantino Franco Martins.
Chegado o ano de 1935 e atingindo o Diamantino Franco Martins a maioridade, foi feita a confirmação da venda, fazendo-se constar dele, que recebeu do Constantino 500$00, preço porque lhe vendeu o referido bico de terreno.
O largo e coradouro era ocupado por velhos carvalhos, os existentes no coradouro foram cortados pelo Manuel Gonçalves Martins e os restantes foram derrubados por um ciclone que se abateu sobre o local fazendo lembrar os destroços da guerra mundial, que mergulhou a Europa na mais profunda crise e miséria.
Na década de 40, foram plantados no largo os plátanos que ainda hoje aí se encontram, segundo testemunhos de moradores do lugar de Crasto, essas árvores foram adquiridas na cidade do porto pela Câmara Municipal de Ponte de Lima, através dos préstimos do sr. “Mikipi” e foram plantadas pelo Sr., João Redondo.
Na mesma altura foram plantadas os plátanos que se encontram no engenho da Veiga de Crasto, com os pés que sobraram do largo da devesa.
Nesta mesma altura foram colocados no largo uns bancos em ferro e madeira, que eram utilizados pelos moradores para aí passarem horas a fio em conversas de fim-de-semana, serviram os mesmos para Abeilard Morais e seus colaboradores decidirem ressuscitar as representações da Turquia em 1952.
Em 1952, é feita a escritura de venda do bico da devesa. Contendo a mesma alguns vícios, que vão originar um processo judicial em que foram autores a Junta de Freguesia e réus Constantino Redondo e mulher Emília Pereira.
No dia 1 de Abril de 1960, perante o Mmº Juiz Dr. Belarmino de Melo da Costa Cerqueira, os Dr. Libório Simões de Araújo, na qualidade de advogado da Junta de Freguesia da Ribeira, o Dr. Alcides Pereira, na qualidade de advogado dos réus Constantino Redondo e mulher, chegam a um acordo pondo fim à acção, ficando os réus com o terreno que fica junto à sua casa nos termos descritos no referido documento, reconhecendo o domínio e posse do restante terreno à Junta de Freguesia.
Apesar de todas estas questões e lutas pela posse do largo ou parte dele, o então “ Padre João da Ritinha”, volta a representar o Auto da Turquia, para alegria dos moradores de Crasto e interessados pelas coisas da cultura popular, como era o caso do maestro António Pedro, Conde D´Aurora, Leandro Quintas Neves, entre muitos outros que nesse dia chuvoso se deslocaram até ao terreiro para verem “ uma Truquia pr’a gente se advertir”, pois foi desta forma que alguns populares responderam, quando lhes foi perguntado onde era o teatro.
È após esta representação que surge o diferendo entre o padre João Rodrigues de Sousa e António Pedro, com troca de mimos e argumentos nos jornais Cardeal Saraiva e Jornal Diário Popular de 10 de Outubro de 1965, ao publicar na sua coluna semanal intitulada “Quinta sem Muros”, uma crónica intitulada”Quando a Turquia deixa de ser o nome de um pais”.

excerto do texto original - continua

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