RIBEIRA, NOVOS HORIZONTES

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Sunday, October 14, 2007

FONTES E FONTENÁRIOS DA RIBEIRA

A FONTE DA VEIGA

Ao fundo da “Quinta dos Fortes ou do Carvalhal”, propriedade de António Vieira Lisboa, poeta e presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, ficava a “fonte do piolho”, como também era conhecida.

Situada ao fundo da quinta, colocada junto ao muro à sombra de uma carvalheira, com os campos a seus pés, formada por bica de pedra um pouco tosca, dela saia uma água tão fresca, capaz de causar um refreado ao sôfrego que a bebesse.

Durante anos a fio, décadas ou até mais matou a sede a rebanhos de gente, que durante as horas de maior pico de calor do verão, enxameavam os campos da veiga.

Na época em que não ficava um palmo de terra por cultivar, esses rebanhos de homens e mulheres, ora a sachar, ensomar ou desfolhar, sempre ao ritmo de cantigas que entoavam ao despique de uma e outra margem do Rio Lima, socorriam-se da água desta fonte, para refrescarem a goela do esforço dispendido nesses trabalhos.

Recordo-me muito bem, era eu ainda criança de escola, com os pés nus a andar sobre aquela terra-pólvora, que aquecida pelo sol, escaldava mal era pisada, obrigando-nos a correr para não sentir a dor na carne tenra daqueles pés de criança.

Nesse tempo, o trabalho de um rapaz de escola, filho de Lavradores, que nos campos da veiga colhiam o Pão que nos havia de sustentar todo o ano, era transportar água dessa fonte, para matar a sede aos corajosos trabalhadores, que desafiavam a natureza, esforçando-se em obrigar a terra a produzir.

Na década de 80, com a construção das primeiras casas do bairro J. Alves, os trabalhos de terraplanagem sufocaram-lhe a nascente e daí em diante jamais a fonte exerceu a sua nobre função.

Na década seguinte, o abandono progressivo do cultivo dessas terras, a incúria e o desleixo, permitiram que o mato e as silvas se encarregassem de sepultar a Fonte da Veiga, sem a dignidade que merecia.

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