Desenhos de Alfredo Mancio
As memórias da II Guerra Mundial, ainda estavam bem vivas na mente daqueles que, graças à sua condição podiam aceder à informação, mas todos sofriam as consequências do conflito mundial, apesar do não-alinhamento de Portugal, os portugueses sentiram na carne as dificuldades desses tempos de pós – conflito.
A Ribeira vivia pacatamente, sem grandes acontecimentos que merecessem importância, se bem que o povo de Crasto, já começava a sentir saudades dos tempos em que o largo da devesa, em frente à capela da Cruz de Pedra era palco da Turquia.
Nas tabernas do lugar e nos bancos do largo, recordavam-se esses momentos e contavam-se peripécias de representações anteriores, sem que alguém tivesse a coragem de assumir o encargo de tal empreitada.
No início da década de 50, veio viver para o lugar de Crasto, Abeilard Morais, tendo-se instalado na Quinta da Portela, propriedade de Júlio Pereira Pinto, que foi comandante dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima; Hoje pertença dos herdeiros de António Fernandes Seco, natural da Lousã e que fez fortuna no comércio de azeite nos anos que se seguiram à guerra, ficando conhecidos como “os azeiteiros do arrabalde “.
Abeilard Morais acabava de regressar do ultramar, mais propriamente de Angola, onde ocupou o cargo de chefe do posto administrativo.
Durante as muitas conversas que manteve no largo, tomou conhecimento de que já não se realizava a Turquia há muito tempo.
Com a ajuda dos amigos, Aníbal da Cruz, Tio Licas e o Bota dos Alfanados, lá conseguiram arranjar umas folhas velhas e desordenadas do velho Auto dos Turcos, depois de as copiar e organizar, foram distribuídas pelas personagens, começando desde logo os preparativos para a representação.
Os ensaios decorriam à luz de candeeiros a petróleo e petromax, na quinta do Curinheira, ali mesmo ao lado do largo onde iria ser a representação.
No dia 10 de Agosto, domingo do ano de 1952, pelas 16 horas, ouviu-se um grande estrondo de morteiro e eis que logo se ouve o Rei Cristão perguntar: Que estrondo é que ouvimos?...respondeu-lhe o capitão: - São os Mouros com soberba que nos vem desafiar p´ra connosco terem guerra!
Assim começou mais uma das míticas representações do Auto dos Turcos de Crasto
O largo estava cheio de gente, que de todo o lado tinham invadido o lugar, da Vila, Refoios, Feitosa, Correlhã até de Viana tinha chegado gente, naquele dia não havia preconceitos, ricos e pobres lado a lado para ver o desempenho dos Turcos de Crasto.
Os vigias estiveram soberbos, com um desempenho de tal ordem que não houve viva alma que não se tivesse rido a bandeiras despregadas, quando estes rebolaram no chão disputando a chouriça que tinha saído da “bota” do turco.
E quando eles se regalavam com o vinho, trazido no Cornió?
Foi um sucesso ainda hoje recordado no lugar esta representação de 1952.
Foram homens, como Abeilard Morais, João Rodrigues de Sousa e tantos outros, que de uma forma empenhada e dedicada conseguiram manter viva tão orgulhosa tradição, contribuindo dessa forma para o engrandecimento da sua Turquia, que não é país.
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