O Cemitério de S. João da Ribeira – Notas sobre a sua construção
Os cemitérios, tal como os conhecemos nos nossos dias remontam ao Sec XIX.
Inicialmente os funerais, faziam-se no interior ou em redor das igrejas, conforme a condição social dos defuntos; Assim, no interior das igrejas eram enterrados os nobres e o clero e nos adros das mesmas as restantes pessoas.
Por volta de 1776, começa uma campanha contra esta prática, tendo o bispo de Leiria, D. Manuel de Aguiar, mandado construir um jazigo para si e restantes sucessores.
Posteriormente, nas Constituintes de 1820, o arcebispo de Braga, D. Vicente da Soledade, achava esta prática anti-higiénica.
Em 1835, Rodrigo da Fonseca, publica um decreto proibindo os enterramentos nas igrejas.
Esta proibição, provocou uma onda de contestação apoiada por certos padres, que nas suas paróquias incitavam ao incumprimento da mesma, tendo culminado com a célebre Revolta da Maria da Fonte, uma simples camponesa, que juntamente com outras de igual condição social, munidas de foices, roçadores e varapaus, desafiaram a lei, enterrando uma defunta na igreja de Stº André dos Frades na Póvoa de Lanhoso.
******************
Em Ponte de Lima, iniciaram-se os enterramentos no Cemitério Municipal, em 1 de Janeiro de 1879.
Nas restantes freguesias do Concelho, não existiam cemitérios.
Os mortos das freguesias de Feitosa e parte de Arcozelo, eram enterrados no cemitério da Vila por acordo entre os párocos das respectivas freguesias e a Câmara, enquanto não fossem construídos os respectivos cemitérios paroquiais.
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Em 16 de Agosto de 1896, a Junta da Paróquia de S. João da Ribeira, presidida pelo padre Joaquim José Gonçalves da Silva, tendo como vogais, António José Fernandes Pereira do Lago, Francisco Afonso Dias e José Martins Dias, reuniram-se e perante a demora na construção do cemitério paroquial desta freguesia, bem como da evidente falta de espaço no adro da igreja paroquial, pedem à Câmara Municipal para que proceda o mais urgente possível à construção do referido cemitério, informando o seu administrador, de que já existia para o efeito, uma verba de 120 mil reis, o restante seria obtido através de uma subscrição pública entre os paroquianos e com os donativos das irmandades.
Em Janeiro de 1897, o Administrador do Concelho, José de Abreu Pereira Coutinho, remete um pedido de autorização ao Governo Civil de Viana do Castelo, para que se construa um cemitério na Freguesia de S. João da Ribeira.
Em documento de 23 de Setembro de 1903, que acompanha a planta do referido cemitério, refere-se que o orçamento da obra é de 540 mil reis.
A obra de construção foi lançada em concurso público, estipulado em praça aberta a 15 de Novembro de 1903, durante uma hora.
Do caderno de encargos, destaca-se:
O responsável pela obra, deveria arranjar fiador idóneo que se responsabilizaria perante a Junta.
Os trabalhos teriam de ser iniciados 8 dias após a adjudicação da obra, devendo ser concluídos no prazo de 6 meses.
Os trabalhos compreendiam tarefas de profundação e terraplanagem do leito do cemitério, de modo a que o mesmo ficasse num só tabuleiro ou balcão e que a sua profundidade, na camada movível não fosse inferior a 1,5m
Construção de muros de alvenaria e cantaria, com quatro obeliscos e colocação de um portão de ferro e abertura de ruas interiores para circunvalação.
Os muros da vedação, em pedra de alvenaria com cavalete, estariam a uma altura de 2,5m pela parte exterior e cada um dos ângulos, ligados por um cunhal de cantaria, apilastrados e cheios de argamassa de cal, que deveria ser carregada no forno da cal, junto ao rio lima, situado na freguesia no lugar do pêgo, com saibro e areia, devidamente caiado.
O muro da frente em cantaria de granito que deveria ser proveniente das pedreiras de Stº Ovidio ou S. Gonçalo, trabalhado a cinzel, com soco e pilastras, cheio a crespo ou com pinha, no centro, um portão de 2,30m de largura, encimado por dois obeliscos, que dariam acesso ao leito de cemitério por meio de um pátio, servido por oito degraus de cantaria, medindo cada um, 2,30m de comprimento, por 0,40m de largura e 0,20m de altura ou espessura. Sobre cada um dos cunhais deste muro, assentaria um obelisco que guarda simetria com o portão.
Os muros da vedação de 0,60m de espessura e assento dos caboucos em terreno firme, ficando as pedras dispostas de modo a que fiquem trancadas.
No assentamento da cantaria, não é aconselhado o uso de palmetas de madeira e na fiada os comprimentos devem ser diferentes em duas pedras consecutivas.
Depois de construído, a cantaria será ligada com argamassa fina a uma profundidade de 0,10m, as juntas, tanto verticais como horizontais, deverão ser molhadas e limpas.
O saibro a utilizar para a composição da argamassa, deverá ser silicioso e isento de qualquer matéria terrosa e a areia bem limpa e privada de materiais limosos e pulverosentes.
As ruas interiores, de acesso às sepulturas ou jazigos, seriam de pelo menos 3m, de acordo com a junta ou técnico nomeado por esta.
O gradão de ferro deveria ser da marca “ Grovan”, proveniente da Escócia e pensava-se incluir alguns florões, que nunca chegaram a ser elaborados.
Um outro documento avulso, leva-nos a pensar que o empreiteiro da obra, embarcou para terras de Vera Cruz a 29 de Maio de 1905, deixando a obra por concluir, em virtude da demora de parte do pagamento.
O cemitério de S. João da Ribeira, acabou por ser concluído por outro empreiteiro, conforme nos é documentado pelo anúncio publicado em edital, no jornal “ Echo do Lima” de 12 de Maio de 1907, Nº 102, 3º Ano.
Não foi possível saber a data da sua inauguração, bem como o nome do primeiro defunto, que aí foi enterrado.
Inicialmente os funerais, faziam-se no interior ou em redor das igrejas, conforme a condição social dos defuntos; Assim, no interior das igrejas eram enterrados os nobres e o clero e nos adros das mesmas as restantes pessoas.
Por volta de 1776, começa uma campanha contra esta prática, tendo o bispo de Leiria, D. Manuel de Aguiar, mandado construir um jazigo para si e restantes sucessores.
Posteriormente, nas Constituintes de 1820, o arcebispo de Braga, D. Vicente da Soledade, achava esta prática anti-higiénica.
Em 1835, Rodrigo da Fonseca, publica um decreto proibindo os enterramentos nas igrejas.
Esta proibição, provocou uma onda de contestação apoiada por certos padres, que nas suas paróquias incitavam ao incumprimento da mesma, tendo culminado com a célebre Revolta da Maria da Fonte, uma simples camponesa, que juntamente com outras de igual condição social, munidas de foices, roçadores e varapaus, desafiaram a lei, enterrando uma defunta na igreja de Stº André dos Frades na Póvoa de Lanhoso.
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Em Ponte de Lima, iniciaram-se os enterramentos no Cemitério Municipal, em 1 de Janeiro de 1879.
Nas restantes freguesias do Concelho, não existiam cemitérios.
Os mortos das freguesias de Feitosa e parte de Arcozelo, eram enterrados no cemitério da Vila por acordo entre os párocos das respectivas freguesias e a Câmara, enquanto não fossem construídos os respectivos cemitérios paroquiais.
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Em 16 de Agosto de 1896, a Junta da Paróquia de S. João da Ribeira, presidida pelo padre Joaquim José Gonçalves da Silva, tendo como vogais, António José Fernandes Pereira do Lago, Francisco Afonso Dias e José Martins Dias, reuniram-se e perante a demora na construção do cemitério paroquial desta freguesia, bem como da evidente falta de espaço no adro da igreja paroquial, pedem à Câmara Municipal para que proceda o mais urgente possível à construção do referido cemitério, informando o seu administrador, de que já existia para o efeito, uma verba de 120 mil reis, o restante seria obtido através de uma subscrição pública entre os paroquianos e com os donativos das irmandades.
Em Janeiro de 1897, o Administrador do Concelho, José de Abreu Pereira Coutinho, remete um pedido de autorização ao Governo Civil de Viana do Castelo, para que se construa um cemitério na Freguesia de S. João da Ribeira.
Em documento de 23 de Setembro de 1903, que acompanha a planta do referido cemitério, refere-se que o orçamento da obra é de 540 mil reis.
A obra de construção foi lançada em concurso público, estipulado em praça aberta a 15 de Novembro de 1903, durante uma hora.
Do caderno de encargos, destaca-se:
O responsável pela obra, deveria arranjar fiador idóneo que se responsabilizaria perante a Junta.
Os trabalhos teriam de ser iniciados 8 dias após a adjudicação da obra, devendo ser concluídos no prazo de 6 meses.
Os trabalhos compreendiam tarefas de profundação e terraplanagem do leito do cemitério, de modo a que o mesmo ficasse num só tabuleiro ou balcão e que a sua profundidade, na camada movível não fosse inferior a 1,5m
Construção de muros de alvenaria e cantaria, com quatro obeliscos e colocação de um portão de ferro e abertura de ruas interiores para circunvalação.
Os muros da vedação, em pedra de alvenaria com cavalete, estariam a uma altura de 2,5m pela parte exterior e cada um dos ângulos, ligados por um cunhal de cantaria, apilastrados e cheios de argamassa de cal, que deveria ser carregada no forno da cal, junto ao rio lima, situado na freguesia no lugar do pêgo, com saibro e areia, devidamente caiado.
O muro da frente em cantaria de granito que deveria ser proveniente das pedreiras de Stº Ovidio ou S. Gonçalo, trabalhado a cinzel, com soco e pilastras, cheio a crespo ou com pinha, no centro, um portão de 2,30m de largura, encimado por dois obeliscos, que dariam acesso ao leito de cemitério por meio de um pátio, servido por oito degraus de cantaria, medindo cada um, 2,30m de comprimento, por 0,40m de largura e 0,20m de altura ou espessura. Sobre cada um dos cunhais deste muro, assentaria um obelisco que guarda simetria com o portão.
Os muros da vedação de 0,60m de espessura e assento dos caboucos em terreno firme, ficando as pedras dispostas de modo a que fiquem trancadas.
No assentamento da cantaria, não é aconselhado o uso de palmetas de madeira e na fiada os comprimentos devem ser diferentes em duas pedras consecutivas.
Depois de construído, a cantaria será ligada com argamassa fina a uma profundidade de 0,10m, as juntas, tanto verticais como horizontais, deverão ser molhadas e limpas.
O saibro a utilizar para a composição da argamassa, deverá ser silicioso e isento de qualquer matéria terrosa e a areia bem limpa e privada de materiais limosos e pulverosentes.
As ruas interiores, de acesso às sepulturas ou jazigos, seriam de pelo menos 3m, de acordo com a junta ou técnico nomeado por esta.
O gradão de ferro deveria ser da marca “ Grovan”, proveniente da Escócia e pensava-se incluir alguns florões, que nunca chegaram a ser elaborados.
Um outro documento avulso, leva-nos a pensar que o empreiteiro da obra, embarcou para terras de Vera Cruz a 29 de Maio de 1905, deixando a obra por concluir, em virtude da demora de parte do pagamento.
O cemitério de S. João da Ribeira, acabou por ser concluído por outro empreiteiro, conforme nos é documentado pelo anúncio publicado em edital, no jornal “ Echo do Lima” de 12 de Maio de 1907, Nº 102, 3º Ano.
Não foi possível saber a data da sua inauguração, bem como o nome do primeiro defunto, que aí foi enterrado.
Bibliografia:
Dec. Lei de 21 de Setembro de 1895
Dec. Lei 13:166 de 18 de Fevereiro de 1927
Diário do Governo Nº6 de 9 de Janeiro de 1875
Portaria Nº 376, Diário do Governo de 15 de Junho de 1915
Dec. Lei Nº 274/82 de 14 de Julho de 1982
Jornal “Echo do Lima” Nº 102, Ano 3º de 12/5/1907
Anunciador das Feiras Novas, Ano XII 1995
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