RIBEIRA, NOVOS HORIZONTES

Forum de opinião e debate da vida quotidiana da Ribeira

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Location: Ponte de LIma, Viana do Castelo, Portugal

Thursday, February 28, 2008

CASAS E FAMILIAS ILUSTRES DA RIBEIRA


2 - O ASSALTO E ROUBO DA CASA DA GARRIDA

O roubo e assalto de que foi alvo o Marechal Mello da Gama, na sua casa da Garrida, no termo da freguesia da Ribeira, foram um dos maiores mistérios jamais vistos em Ponte de Lima e tratou-se de um segredo nunca revelado.
Se José Rosa Araújo, ainda alimentava a esperança de um dia o mistério poder ser desvendado, nos dias de hoje, parece-me praticamente impossível ir alem do ruído que se sentiu na época.
Mesmo assim, acho relevante deixar aqui algumas notas sobre esse assunto, dada a importância que aquela casa e suas gentes representaram para esta freguesia.
Depois de se reformar da carreira militar, que desempenhou no ultramar, o marechal Mello da Gama, já com avançada idade, mas com enorme robustez física e forte estatura moral veio viver para Ponte de Lima, tendo-se instalado na sua casa do arrabalde, que lhe foi deixada após a morte de seu irmão.
O Marechal, chegou a Ponte de Lima, vindo da Índia, onde exerceu o cargo de Governador de Diu, com ele vieram seu único filho, Tenente-coronel, que vinha preso por se ter envolvido numa revolta contra o governo de seu pai, um neto, duas netas e um criado preto, de seu nome Francisco Andrade, que se destacava nos bailaricos e tascas da vila, ao que parece morreu afogado no Rio Lima, já depois do desaparecimento do velho Marechal.
O recheio da casa era de tal modo valioso, que causava espanto a todos quantos lá entravam, estando as portas sempre abertas e a casa acolhia todos que a ela recorressem.
“ Os pacotes de libras esterlinas eram aos montes; os objectos preciosos carregavam um carro; as sedas e mais tecidos indianos faziam a fortuna de uma família; enfim, não havia pelas redondezas quem se avantajasse em fortuna ao Marechal Francisco Mello da Gama” (1)
Toda esta riqueza, granjeada nas Américas e por terras da Índia, faziam atiçar a cobiça e a inveja a qualquer alma, que desgraçadamente não tivera igual sorte.
O assalto foi cuidadosamente planeado e terá acontecido do seguinte modo:
Dias antes do assalto, os bandidos procuraram arregimentar a pretextos diversos, vários solípedes e outras tantas cavalgaduras, que muniram de alforges para poderem transportar o pecúlio.
Na noite anterior ao assalto, deflagrou um enorme incêndio, na rua de S.José, bem no centro de Ponte de Lima, onde toda a vizinhança acudiu.
Já na madrugada, do dia do assalto, os bandidos contaram com o apoio de uma criada da casa, que lhes franqueou as portas da capela, por onde entrou uma boa parte da Quadrilha, enquanto outro grupo, procurava atrair a atenção dos donos da casa e seus criados que galhardamente procuravam defender os bens, para as traseiras da casa que davam acesso para o quintal, os ladrões entraram no solar, com a cara tapada por capuz, só com a abertura para os olhos.
Surpreendido, e sem capacidade para resistir, o velho marechal rendeu-se, tendo os larápios feito uma verdadeira limpeza de todo o recheio da casa.
No meio de toda aquela confusão, um dos assaltantes deixou para trás um gorro de estudante de Coimbra.
A criada que estava de conluio fugiu no final do assalto, juntamente com a quadrilha, havendo notícias de que acabou os seus dias em perfeita miséria, para os lados de Braga.
Contava-se ainda, que um dos burros carregado com parte da prata existente na Casa da Garrida, por falta de tangedor e no meio daquela balbúrdia, regressou à corte de onde teria saído, numa das freguesias da redondeza, levando consigo tão importante e valiosa carga.
O dono, que o tinha emprestado sem saber o fim a que se destinava, ao ver tão importante pecúlio, bem o guardou e bastante satisfeito ficou, negando mais tarde, quando lhe foram pedir, ser possuidor dessa mercadoria.
Ao que tudo parece, ainda hoje essas pratas estão guardadas em segredo, numa casa de lavradores da região.
Toda a prataria da casa tinha a marca “ Garrida”, pelo que facilmente se saberia o seu paradeiro, logo que a mesma deixasse o fundo das arcas onde durante anos se manteve escondida.
Mais tarde alguns desses objectos roubados, foram vistos em vários locais por ocasião de cerimónias importantes.
Assim aconteceu, numa exposição, na igreja da Misericórdia de Viana por ocasião da Semana Santa, onde foram mostradas algumas peças de prata, com a referida chancela.
Por outra altura, já nos anos 50/60, um representante directo da família, foi convidado para tomar chã, numa casa abastada da vila, sendo o mesmo servido com colheres da marca “Garrida”.
Apesar do serviço ter sido distinto, o liquido sabia-lhe a fel.
As senhoras da casa, preocupadas com o requinte do serviço, não se aperceberam da tamanha gaff, que tinham cometido.
Quanto aos autores de tal assalto, para alem da criada, nunca se descobriu quem teriam sido, apesar de se apontarem vários nomes.
Segundo Rosa Araújo, um dos que mais sabia desse assalto e membros da quadrilha era o então padre de Refoios do Lima, Pe. José Maria de Araújo Calheiros, que em conversa lhe terá dito que o chefe dos assaltantes estava sepultado no adro da igreja paroquial, junto ao cipreste que lá existia.
Outro nome apontado como implicado nesse assalto era um tal “Alexandre”, comerciante na rua do Pinheiro.
Sobre este individuo, que usava sempre uma luva na mão direita, figura misteriosa e pouco dada a esclarecimentos sobre o uso contínuo dessa luva, suspeitando-se que teria sido ferido nesse assalto, por um tiro desferido pelo marechal ou um dos seus criados.
Mal correu a notícia da sua morte, uma descendente “dos da Garrida”, acompanhada por um amigo, movidos pela curiosidade, lá subiram a rua do pinheiro, para velar o defunto.
Logo que chegaram ao local, subiram as escadas e depararam com o tal “Alexandre” estendido no caixão de mãos cruzadas sobre o peito, de luvas calçadas.
Era velado apenas por uma pessoa e aproveitando a distracção da mesma, o amigo T. V. aproximou-se do defunto e ao pressionar as costas da mão pode verificar que a mesma tinha uma cavidade, sinal de que algo realmente se passava com aquela mão!
Muito se narrou sobre o acontecimento, muita tinta correu sobre o assunto, muitas confissões se devem ter feito perante o desespero da hora de finados, muitos segredos se guardaram e jamais se saberá quem foram os verdadeiros ladrões e seus cúmplices.
Quanto ao marechal Mello da Gama, retirou-se para a sua quinta em S.João da Ribeira, onde sofreu outras tentativas de assalto, que não foram consumadas e aí terminou os seus dias, cumprindo um penoso e difícil fim de vida, consumido pelo desgosto e pela cegueira que lhe haveria de limitar os movimentos, já no final da sua vida.
Valeu-lhe o seu criado preto que lhe foi leal e dedicado até ao último dia.
E assim se guarda ao longo de tanto tempo aquele que deve ser o maior segredo alguma vez guardado por estas terras.





Bibliografia:

Miguel de Lemos citado in Araújo, 1993:nº6
Almanaque de Ponte de Lima
Limiana, J.R.A. limici
Património Imaterial de Ponte de Lima, 196

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Wednesday, February 27, 2008

A RIBEIRA DE OUTROS TEMPOS - Confrarias e Irmandades

IRMANDADE DE Nª Sª DO ROSÁRIO
S. JOÃO DA RIBEIRA – PONTE DE LIMA

LISTA DE IRMÃOS (*)

Dª Maria Gomes Coelho
Teresa Fernandes Carvalho
Salvador António Martins
José Fernandes – menor de José Martins Dias
Rosa Gonçalves – de Vila Nova
Rosa Maria Rodrigues
Rosa Evangelista
Rosa Redonda
Maria do Carmo
Luís Fernandes Pires
José Rodrigues Armada
José Rodrigues – do Souto
José Gonçalves Martins
Joaquim Esteves
João Martins Seixas
João Evangelista
João Esteves
João da Cruz Lopes
João Rodrigues Armada
João José Rodrigues – do Souto
Constantino José Rodrigues
Custódia Vaz de Seixas
Custódia Maria Rodrigues

(*) Documento sem data.
Arquivo de Ponte de Lima; cota 243 cx 27

ELEIÇÃO DA MESA 1924 – 1925 (*)

Aos 8 DE JUNHO DE 1924

Juiz – Salvador António Martins
Tesoureiro – António Fernandes d’Oliveira
Procurador – Joaquim Esteves

Mordomos:
António Alves Martins – Talharezes
Francisco de Oliveira – Paradela
António Rodrigues Armada – Ribeira
Adolfo Martins Ferreira – Crasto


(*) Livro de Actas para a Eleição
Arquivo de Ponte de Lima; Cota 242 cx 24

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Saturday, February 23, 2008

OPINIÃO DA SEMANA QUE PASSA

POSITIVO - A recuperação das condutas de água, que abastecem a freguesia por parte das Águas do Minho e Lima

NEGATIVO - A falta de sensibilidade, demonstrada pelos autarcas da Ribeira para prestar a justa homenagem ao poeta Vieira Lisboa, conforme se pode constatar pela observação do blog UNIRII.BLOGSPOT.COM

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CASA DA GARRIDA - Ponte de Lima

Casa da Garrida um refúgio de cultura.

Aqui viveu, até os final da sua vida em 1968, o poeta António da Silva Gouveia Vieira Lisboa.
Este ano celebra-se o Centenário do seu nascimento (1908) e a passagem dos 40 anos da sua morte, pelo que é justo não deixar esquecer estas datas e libertar da lei da morte, aquele que foi um dos mais ilustres moradores desta freguesia.
Sei que existe já, por parte de elementos da Assembleia de Freguesia da Ribeira, uma espécie de Pró-Comissão promotora para o evento.
Vamos todos apoiar a iniciativa, para que o Dr. Lisboa tenha a homenagem merecida.

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Friday, February 22, 2008

CASAS E FAMILIAS ILUSTRES DA RIBEIRA


1 - FAMILIA MELLO DA GAMA E A CASA DA GARRIDA

A casa da Garrida, ocupa um lugar cimeiro nos Anais desta freguesia e os seus representantes, foram uma das mais importantes famílias da região.
Muito se falou sobre esta família, principalmente no Sec.XVIII e XIX por motivos vários, o certo é que sendo um imóvel tão valioso e tão rico, despertou-me a curiosidade em aprofundar um pouco mais os conhecimentos sobre o mesmo, bem como as famílias que por ele passaram.
Assim, tentarei dar a conhecer a história dessa casa, recuando no tempo, até aos dias de hoje.
Tudo leva a crer que a construção do solar da garrida no termo da Freguesia da Ribeira, se terá iniciado no último cartel do Sec.XVIII, muito provavelmente por ordem de Francisco Alvares da Silva, vereador em ponte de Lima, casado com Dª Rosa Maria de Mello d’Abreu e Lima (1), considerando-se ter sido ele o primeiro senhor da quinta da garrida.
Sucedeu-lhe seu filho, António José da Silva e Mello, casado com Dª Maria Michaella da Gama de Araújo e Azevedo, deste casamento havia de nascer aquele que mais brilhou de todos os membros do clã, trata-se do Marechal Francisco de Mello da Gama de Araújo e Azevedo, neto paterno de Francisco Alvares da Silva e de Dª Rosa Maria de Mello d’Abreu e Lima e materno de Caetano José da Gama de Araújo e Azevedo, senhor da casa de Beiral e Monteiro-Mor de Ponte de Lima e de Dª Ana Josepha Lemos d’Abreu Sá Sottomaior.
Francisco Mello da Gama, foi oficial do Exército ainda muito novo, portador de um génio irrequieto e aventureiro, foi servir no ultramar, percorrendo os vários continentes, onde Portugal exercia os seus domínios.
Casou ao que tudo indica, no Brasil, a 6 de Outubro de 1798, aos vinte e dois anos, com Maria Maximiana Feijó e Silva. (2)

Nesta altura, prestava serviço como oficial subalterno, com a patente de capitão, em Desterro, Santa Catarina, Brasil, mais tarde foi deslocado para Macau, onde comandou o Batalhão do Príncipe Regente.
Já na Índia, com a patente de brigadeiro foi governador de Diu, tendo conseguido sufocar várias revoltas, foram notáveis os serviços que aí prestou.
Foi condecorado com as Ordens de Torre e Espada e Avis.
No seu regresso à metrópole, foi-lhe oferecido o título de conde de Diu, que recusou.
Fez toda a sua carreira militar no ultramar, para onde foi como oficial subalterno, tendo regressado com a patente de Marechal de campo.
Passou à reforma, no último dia de Janeiro de 1840.
O marechal Francisco Mello da Gama, foi um homem de grande coragem e disciplina, atestando essa qualidade o facto de ter mandado prender o seu próprio filho e único herdeiro, por estar comprometido com uma revolta militar.
Foi sucessor de seu irmão na casa da Garrida.
Já com avançada idade, mas com grande robustez física, veio viver para Ponte de Lima, instalando-se na sua casa do arrabalde.
Consigo, veio o seu filho, que cumpria pena de prisão, tendo ficado preso no sótão da casa, de onde saia, para ver a luz do sol, apenas na ausência de seu pai com o conluio dos criados, recolhendo ao cárcere logo que o velho marechal chegava.
Foi alvo de um importante assalto, tendo o roubo sido cuidadosamente preparado e levado a cabo por uma quadrilha de mal feitores, na madrugada de 11 de Outubro de 1847.
Desgostoso o marechal, retirou-se para a quinta que possuía no lugar da Garrida em S.João da Ribeira, vivendo um penoso e triste fim de vida, acabando por cegar.
Faleceu em 17 de Janeiro de 1859, sendo sepultado na igreja paroquial de S. João da Ribeira.

(1) Almanaque de ponte de Lima, 1910
(2) Fórum de Genealogia, Geneall.net
Limiana, J. R. A, LIMICI

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Sunday, February 17, 2008

BAÚ DE RECORDAÇÕES - UM TORNEIO DE FUTEBOL


UM TORNEIO DE FUTEBOL DE 7 – Cruz de Pedra


Decorria o ano de 1982, do programa das festas da cruz de pedra, realizadas no mês de Agosto para alem da representação do Drama de Stº. António, a comissão organizadora levou a cabo um torneio de futebol de 7, realizado no próprio largo da devesa.
A equipa dos “ Turcos de Crasto “, que se classificou em 2º Lugar.

De péAdelino Silva, Luís “catrina”, João Carlos, Domingos e Nuno Redondo.

Em Baixo“Minguinhos”, Vítor Redondo, Quim “Tenente” e Jorge Redondo.

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Friday, February 15, 2008

OPINIÃO DA SEMANA QUE PASSA

POSITIVO -O reforço da potencia da energia electrica por parte da EDP, com a entrada em funcionamento de um novo PT, no lugar de Talharezes.
NEGATIVO - O estado em que se encontra EN 203, desde o estado do piso, passando pelos charcos de àgua que se forman em dias de chuva.

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Wednesday, February 13, 2008

O LARGO DA DEVESA OU CRUZ DE PEDRA -Continuação



PALCO DE INUMERAS LUTAS E OUTRAS TANTAS REPRESENTAÇÕES


No Na década de 70, o largo serviu para muitas e variadas utilizações, desde depósito de madeiras ou materiais de construção, passando por parque de estacionamento, mas sempre foi nesse tempo o local escolhido pela rapaziada desde os mais pequenos aos mais crescidos para aí darem largas às suas brincadeiras, desde as escondidas até ás touradas no coradouro, quando não estava ocupado com roupas estendidas ao sol, até aos famosos e sempre apreciados jogos de futebol que aí se realizavam aos fins-de-semana entre moradores do lugar, jogando muitas das vezes solteiros contra casados; Aí deram os primeiros pontapés nomes que mais tarde eram o orgulho desta terra nos grandes estádios de futebol, como Branco ou Redondo.
Nesse tempo, à tardinha, os pardais chegavam aos bandos, num chilrear de encantar que se prolongava até ao cair da noite.
O largo para nós “crianças de catequese” era como que o centro do mundo!
Tudo nos era permitido fazer naquele local, todas as brincadeiras tinham lugar no largo.
Mas sempre livre e desimpedido para que se pudesse realizar a festa no 2º domingo de Agosto em louvor do senhor da Cruz de Pedra.
Aquele largo representa muito para muita gente do lugar de Crasto.
Ali chegou a notícia da liberdade!
Foi ali, que muitos tomaram consciência das mudanças que se estavam a verificar em Lisboa e no país.
Aquele espaço era um local livre, onde se vivia e respirava liberdade.
Apesar de já se respirar nesta freguesia a brisa da liberdade e ainda ébrios dos festejos da revolução um grupo de jovens, desafiou a autoridade do então abade Gomes, que ainda avesso aos ventos da mudança e na tentativa de manter a soberania sobre o seu rebanho, não permitia que houvesse festas na freguesia com os já apetecidos conjuntos musicais, ousaram fazer nesse local um baile com conjunto, foi escolhido o “Alegria” de Vila Praia de Ancora, onde actuava o pai do Quim Barreiros.
Foi um sucesso, para gosto de toda a juventude do lugar de Crasto, como consequência e retaliação o padre Melro, como era chamado, deixou de vir celebrar missa à capela da Cruz de Pedra, como fazia todos os domingos pelas 10 horas.
Já na década de 80, novamente pela mão do mesmo “João da Ritinha”, já sem a batina e obrigações eclesiásticas, o largo voltou a servir de palco para as representações do velho auto dos turcos, que não era representado desde 1965, bem como do drama de Santo António (7 de Agosto de 1982), outra peça de teatro do agrado desta gente e que há muito que era reclamado.
O tempo foi passando e o largo não era merecedor de qualquer tipo de obras de beneficiação, chegando ao ponto das raízes dos velhos plátanos estarem já a descoberto.
Procurando minimizar o estado de decadência em que se encontrava o largo, a junta de freguesia incentivada e com o apoio de moradores do lugar, resolve despejar no local, no dia 1 de Julho de 1991, umas dezenas de camiões de pó de pedra, trazido por um camião da câmara municipal da pedreira da Ribeira, que foi prontamente espalhado pelos populares, que entusiasticamente parecia terem encontrado novamente razões para acreditar que valia a pena estar unidos em torno daquilo que é seu.
Mas, a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra, que tinha sido reabilitada para se poderem realizar obras de restauro na capela, apresentou no Tribunal de Ponte de Lima uma Providencia Cautelar, contra a Junta de Freguesia e a ASCURI – Associação Cultural da Ribeira, principais dinamizadoras das obras de recuperação do largo, começando daí em diante uma disputa judicial pela posse do mesmo.
Para evitar o julgamento, o presidente da Junta de Freguesia e Juiz da Irmandade, chegaram a um acordo para por termo ao diferendo de interesses que ambas as instituições.
Nesse documento, a junta de freguesia reconhecia a posse do terreno à confraria e esta comprometia-se a não fazer qualquer acção no largo sem dar conhecimento à junta de freguesia.
Foi neste pressuposto e de boa fé que o então presidente da junta de freguesia (Cândido Gonçalves), depois de solicitado por elementos da confraria da cruz de pedra, concordou com uma ligeira poda nos plátanos.
dia 22 de Fevereiro de 1996, os moradores e vizinhos do largo, foram acordados pelo ronco de moto-serra, ficaram espantados com o que viam, o “podador”, limitava-se a devastar os velhos e desprotegidos plátanos a golpes de moto-serra ao nível do tronco.
Aturdidos com aquela devastação, procuraram o responsável pela junta, que ao ver o estado em que as árvores iam ficar, logo procuraram impedir aquele atentado, recorrendo a veículos automóveis de moradores, que foram colocados sob as árvores que ainda se mantinham intactas.
Esta iniciativa popular permitiu poupar metade dos plátanos existentes.
Este comportamento, por parte da confraria da cruz de pedra, fez terminar o acordo estabelecido, voltando as partes a litigar em tribunal a posse do referido largo.
No dia 21 de Março de 1996 (Dia da Árvore), foi efectuado o leilão das madeiras, que foram “confiscadas” pela população do lugar de Crasto, tendo sido decidido em plenário realizado no local, que o dinheiro apurado na venda das referidas madeiras, se destinaria a obras a realizar no largo.
O dinheiro foi confiado aos senhores António Redondo e Vítor Redondo, para em conjunto com a Junta de Freguesia, abrirem uma conta, onde esse dinheiro seria depositado até ao momento próprio.
Foi também contactado o Eng.º Gentil Alves, responsável pelos Serviços Florestais de Ponte de Lima, que prontamente se disponibilizou para orientar os tratamentos necessários para cicatrizar as feridas provocadas pelos cortes nos plátanos, tendo esse trabalho sido feito por populares amigos do largo.
Nessa altura, vimos pessoas como Quintino Morais, António Pimenta e esposa Ana Vieira, Rita Melo, Elisa Morais, Leandro Nascimento, entre muitos outros, empenhados em evitar a morte dos plátanos da devesa.
Nessa mesma altura, foram plantados mais dois plátanos jovens, que foram transplantados das margens do rio lima, na zona dos feitais, em Crasto.
Em 12 de Janeiro de 2001, perante o juiz Dr.ª Ana Maria Martins Teixeira, junta de freguesia e Irmandade do Senhor da Cruz de Pedra, põe termo à Acção ordinária nº 279/96, onde eram autora e ré, respectivamente as partes intervenientes, nos termos de um acordo, onde a Junta de freguesia reconhecia que a Confraria do Senhor da Cruz de Pedra era dona do Largo;
A Confraria obriga-se a consentir o uso do referido largo pelo público, nos mesmos termos em que tradicionalmente tem sido feito, compromete-se a manter os acessos, através do largo, aos caminhos públicos que nele tem origem e ás habitações situadas na periferia.
A confraria fica disponível para facilitar à JF outras utilizações ocasionais do largo… obriga-se a não alienar o largo.
A Junta de freguesia poderá sugerir à confraria a realização no largo quaisquer obras que considere adequadas, colaborará com a Confraria na obtenção das verbas necessárias à execução de qualquer projecto de arranjo do largo...
Em Julho de 2002, a Confraria mandou colocar no canto Sul/Poente do largo um cruzeiro em pedra com a imagem do Senhor da Cruz de Pedra.
Em 17 de Novembro de 2004, a Junta de Freguesia, envia um ofício (100/2004) à Câmara municipal a solicitar a atribuição de uma verba como comparticipação nas despesas a efectuar com o arranjo do Largo da Cruz de Pedra/Devesa.
A Câmara municipal, em reunião de 14 de Fevereiro de 2005, Face à disparidade do valor das propostas apresentadas para a execução do arranjo em causa e a análise dos serviços técnicos deliberou por unanimidade, submeter a apreciação dos Serviços técnicos a análise detalhada dos preços unitários do orçamento mais vantajoso.
Em 10 de Março de 2005, a Junta de Freguesia, envia um novo oficio (38/2005) à Câmara Municipal a solicitar a atribuição de uma comparticipação nas despesas a efectuar com a reformulação do largo da Devesa.
Em reunião de 29 de Março de 2005, o executivo municipal deliberou por unanimidade atribuir uma comparticipação de 70% até ao máximo de 49.535,00 Euros + IVA a pagar à medida da execução da obra.
As obras de remodelação e beneficiação decorreram durante o Verão de 2005, foram executadas pela empresa António Grenho de Lanheses, Viana do Castelo.




Documentação consultada:

Livro de notas para actos e contratos entre vivos nº57, do notário Benjamim Cândido Vieira Lisboa, ponte de Lima
Processo de Autos de Acção Sumária, onde foram autores JF Ribeira e réus Constantino Redondo, 1ª Secção do Tribunal de Ponte de Lima, Arquivado sob o nº2, maço 8, do Ano de 1959
Actas da Junta de Freguesia de Ribeira, do livro de actas de 4/2/1945 a 1476/1969
Acta de Audiência de Julgamento, 12/1/01,Acção Ordinária nº 279/96

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Saturday, February 9, 2008

RIBEIRA DE OUTROS TEMPOS - A INDUSTRIA

PORTA DO FORNO

CHAMINÉ DO FORNO


ZONA ENVOLVENTE DO FORNO DA CAL

O FORNO DA CAL



Este local edílico, junto à margem esquerda do rio lima, na freguesia da Ribeira, perdeu muita da importância que exerceu na economia da região.
O calcário explorado nas pedreiras do sul do país, era transportado por mar até ao porto de Viana do Castelo e depois, seguia rio arriba, carregado nos barcos de carga que outrora navegavam no nosso rio, conduzidos com mestria por valentes marinheiros de água doce, como o “ponte nova” e outros, até ao Carregadouro, seguindo depois transportado por carros puxados por bois, para o pego, onde havia de ser cozido no forno da cal.
Depois de tratado, esse calcário bruto era agora transformado em cal viva, que depois de acondicionada em barricas, haveria de seguir o percurso inverso, rio abaixo, até outras paragens deste país.
As casas de toda a região do vale do lima eram caiadas com a cal que saia do forno da Ribeira.
Hoje, é com pena que olhamos o estado em que se encontra o local, inacessível durante muitos anos pode hoje ser visitado, graças à intervenção do município de Ponte de Lima, que ao criar a Ècovia da margem esquerda, devolveu esse sítio à comunidade.
Em jeito de desafio, gostava de lançar um desafio à comunidade Ribeirense, – Não estará na hora de se criar uma Associação, que se preocupe com a protecção do Ambiente e do Património da Freguesia?
Existem tantos locais, que merecem um estudo mais aprofundado, um olhar mais cuidado e muita cautela na sua preservação.


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Saturday, February 2, 2008

OPINIÃO DA SEMANA QUE PASSA


POSITIVO - Nada a registar nesta semana.

NEGATIVO - A falta de iniciativas culturais por parte das associações e organismos com essa responsabilidade na freguesia.

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TRADIÇÕES DA RIBEIRA – O Entrudo





fotos do carnaval de 1990 - Ribeira
Na Ribeira, ainda hoje se ouve falar de um certo número de acontecimentos e tradições que se realizavam ao longo do ano.
Desde as tradições próprias de uma comunidade rural, ligadas ao amanho e cultivo da terra, tais como as desfolhadas, as espadeladas, passando pelas brincadeiras próprias de datas propicias, como Entrudo, serrada da valha, até aquelas que mais se impuseram como foi a representação do Auto dos Turcos de Crasto – Turquia e Drama de Santo António, embora seja feita referencia a outras representações, tais como o drama da mimi, que se representava nos Alfanados.
Inicialmente, com o grande fluxo migratório da década de 60 e 70 e posteriormente, com a evolução dos tempos as freguesias mais próximas da vila, começaram a receber inúmeros “forasteiros”, que iam deixando as suas terras para se fixarem mais próximo da sede do concelho, onde havia mais trabalho, começando a agricultura a entrar em decadência.
A Ribeira não foi excepção e com essa chegada de novos vizinhos, foram sendo quebrados os laços que se vinham mantendo ao longo de décadas.
Com essas mudanças nos usos e costumes, foram sendo cada vez mais raras essas manifestações de cultura popular, que vão mantendo viva a existência de uma comunidade.
Com o passar dos tempos, as associações culturais, os ranchos folclóricos e outras formas de associativismo, foram procurando recriar esses acontecimentos, embora de uma forma esporádica, mas que permite aos mais novos tomar consciência do passado da sua terra, contribuindo desse modo para formação de uma identidade dos mesmos com a comunidade em que se inserem.
Assim vai acontecendo na ribeira, embora actualmente se esteja a viver um ciclo de letargia e as tradições continuem a hibernar na memória daqueles que tendo vontade de fazer algo pela sua comunidade, não sentem nas instituições o apoio e a disponibilidade de que precisam para levar a cabo tal tarefa.
Apesar disso, deixo aqui o testemunho de um dia de Entrudo nesta freguesia levado a cabo pela ASCURI-Associação Cultural da Ribeira, na década de 90.
O local escolhido para a corrida do galo, apanha do porco e outras actividades, foi o campo em frente à antiga escola primário, hoje ocupado pela construção do edifício do novo Centro Educativo da Ribeira.




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Friday, February 1, 2008

NO CENTENÁRIO DO DIA EM QUE MATARAM O REI






O CENTENÁRIO DO REGICÍDIO

Recorda-se no dia 1 de Fevereiro o centenário do assassinato do Rei D. Carlos e do príncipe Herdeiro D. Luís Filipe (1908), na praça do comércio em Lisboa.
A autoria do crime foi atribuída aos carbonários Manuel Buiça e Alfredo Costa, que também acabaram mortos no mesmo local.
O regicídio sempre esteve envolvido por muito mistério policial, pois do ponto de vista politico, foi sempre muito claro o que aconteceu, o Rei e o seu filho foram mortos.
Inicialmente tido como um atentado anarquista, mas na verdade o acto, foi objecto de um minucioso plano e é o resultado de uma conspiração politica, com contornos de golpe de estado.
Na verdade, os dois indivíduos que foram mortos e identificados como regicidas, não eram únicos e possivelmente terá havido muitos outros, que nunca foram capturados, muito menos identificados, pois faziam parte de um grupo armado que se envolvera numa tentativa de golpe de Estado uma semana antes (28/1/1908), tinham recebido treino e as armas não eram vulgares, tratava-se de modernas carabinas adquiridas pelos chefes dessa revolução.
Para se procurar entender as razões para depor o rei, parece-me importante referir o papel que o mesmo desempenhava: O rei nessa altura, não governava, mas tinha o poder de nomear o primeiro-ministro, bem como os pares do reino, tinha ainda o poder para dissolver o parlamento sempre que entendesse, para alem disso, sabe-se que D. Carlos, discutia os elencos dos ministérios, discute uma grande parte das medidas do executivo, recebia os telegramas das embaixadas e por vezes, redige ele próprio as respostas, para alem de ter um predominante papel na defesa.
Nessa altura os governos sucedem-se, chegando mesmo a haver mais do que um governo por ano.
Por outro lado o reinado de D. Carlos, ficou marcado por dois momentos de crise politica: - No início, quando sucede a D. Luís (1889), encontra os dois grandes partidos (Progressista e Regenerador), muito fragilizados, não havendo respeito pelos chefes.
Por outro lado há que ter em conta a questão financeira e a questão das colónias, com o ultimato.
Ao nível interno, em 1906, Hintz Ribeiro e José Luciano de Castro, chefes dos dois principais partidos, chegavam a acordo e elaboravam uma lei que estabelecia um número fixo de membros para a Câmara dos pares do reino, o que na verdade lhes dava a possibilidade de serem os únicos com condições para governar.
D.Carlos deixa João Franco mudar a constituição por decreto, em Dezembro de 1907.
Com o fim da lei dos pares fixos, João Franco com a bênção de D.Carlos, nomeou novas caras para a câmara; Os que foram excluídos dos planos, ficaram irritadíssimos, alguns deles chegaram mesmo a juntar-se aos Republicanos, como foi o caso de António Maria da Silva.
Uma grande parte da imprensa estava contra o rei, os jornais por vezes eram suspensos, os opositores eram deportados, enfim estava criado o ambiente para que a conspiração se transformasse em revolução e foi isso que foi tentado em 28 de Janeiro de 1908.
Apesar desta derrota, (No dia 1 de Fevereiro de 1908, um sábado ensolarado, o Rei D. Carlos desembarca na estação fluvial da praça do Comércio, acompanhado da rainha D. Amélia e do príncipe real D. luís Filipe, pouco passava das 17 horas.
Esperavam-nos no local os infantes D. Manuel, D. Afonso e João Franco, outros políticos e muitos fidalgos… uma menina oferece um ramo de flores à rainha.
Forma— se o cortejo e a família real toma o lugar num landau aberto, a caminho do palácio das necessidades…ouve-se um tiro… depois rebenta uma” perfeita fuzilada”. Surge então outro indivíduo que sobe ao estribo esquerdo e dispara pelo menos dois tiros de pistola sobre o rei…)
Dois anos mais tarde, a 5 de Outubro de 1910, a monarquia exausta será derrotada pela triunfante Republica.


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